segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Receita para confeccionar um "Romeno Padrão"





Pois é!
Hoje vou dar uma aula de culinária!

Um dia, há muito, muito, muito tempo atrás, estava O Todo Poderoso Criador sentado à sombra duma bananeira, aborrecido que nem um cacho a ver a relva crescer, quando teve uma ideia genial: "Vou criar um ser novo, algo nunca antes visto, uma criatura moldada à minha imagem e semelhança, tão perfeita que crescerá e prosperará neste mundo, e que o tornará num lugar melhor!"


E criou o Adão! (Bom, não foi assim tão linear quanto isso... Teve de fazer um estudo prévio para ver qual a melhor solução para a estrutura do novo ser, depois teve de fazer uma série de testes para aferir qual o melhor material constituinte, depois mais isto e aquilo, também foi necessário ir apanhar barro, fazer uns quantos moldes, e ao fim de umas quantas tentativas lá saiu o Adão! Os abortinhos que resultaram das tentativas anteriores nem perguntem o que é que lhes aconteceu...)

Uns meses mais tarde, estavam O Todo Poderoso Criador e o Adão, sentados à sombra duma bananeira a beberem minis, enfadados que nem dois carneiros a pastarem nas planícies secas do Alentejo num daqueles dias bem quentes de Verão quando de repente O "The One" se lembra de "cozinhar" uma companhia feminina para o humano, que por aquela altura já começava a apresentar um "look" meio desgrunhado e desleixado, já para não falar duma barriga de cerveja que mais fazia lembrar porco!

E assim foi... Sacou duma ponta e mola e abriu um buraco no abdómen do Adão para lhe extrair cirurgicamente uma costela. Pôs um panelão grande ao lume, juntou barro, umas rosas, atirou para lá a costela e deixou a cozinhar... Umas horas mais tarde verteu o conteúdo para uma forma e aguardou até arrefecer.

Quando abriram o molde saiu de lá o mais perfeito ser já algumas vez visto.
De seios redondos e altivos, com formas formosas mas firmes, uma pele elástica e tisnada, como se acabada de chegar de umas férias de dois meses numa qualquer praia paradisíaca do Brasil, um cabelo de tom acastanhado e enormes caracóis pelo meio das costas, Eva era mesmo aquilo de que Adão estava a precisar...
A receita tinha saído perfeita! (pelo menos até ter comido a maçã e ter lixado tudo... Ah, e até ter posto as mãos ao volante de um carro... Pff, isso foi outra coisa que também não vinha prevista na receita original...)

Uns milhares de anos mais tarde, depois de muitas receitas, umas mais bem sucedidas que outras, "The One" voltou a tentar fazer um update da raça humana.

Olhou para o mapa e viu um espaço vazio... Dacia era o seu nome...
Pôs lá petróleo, ouro, gás natural, bons recursos agrícolas, umas paisagens bestiais e começou a confeccionar um novo ser para habitar tão rica e próspera terra.


Começou então a juntar tudo num panelão.
Colocou uma porção de barro, para dar consistência, uma mão cheia de pelos de cão, 3 dl de sangue do Isaltino Morais, mais 4 dl da Fátima Felgueiras, 5 dl do Avelino Ferreira Torres, 6 dl do Major Valentim Loureiro e umas raspas da borracha dos pneus do carro de fórmula 1 do Schumacher.
Mexeu e deixou ao lume a alourar.
De seguida, pegou no charme da Ana Malhoa, na classe da Lili Caneças, no estilo do Quim Barreiros, no intelecto do Toy e na inteligência do José Castelo Branco e condimentou o preparado.



Como reparou que tinha sido demasiado económico na dose e que não ia conseguir encher totalmente a forma, resolveu colmatar essa falha com dois ratos que iam a passar mais uma mão cheia de roupas velhas.
Só que havia ali qualquer coisa que não jogava muito certo... Do tacho emanava um aroma estranho.
Na tentativa de remediar, resolveu retirar aquela pontinha solta de ética que restava, todo o civismo, porque vendo bem não jogava certo com o resto dos condimentos e mexeu outra vez com força.
Bom, mas com tanto tempo ao lume, já havia bocados que estavam a ficar queimados e colados às paredes do tacho, então, sem grandes cerimónias, despejou tudo de uma só vez na forma e deixou-a a arrefecer.



Só então reparou que se tinha esquecido de alguns ingredientes, e que ao ter vertido tudo de uma só vez, o preparado não havia ficado bem misturado.

"Bom, seja o que Eu quiser..." pensou "The One" para si próprio enquanto aguardava com expectativa o resultado de mais uma receita.

E assim foi... Desenformou e... - "Óh meu Eu!!!" - exclamou espantado.

Pois é!
Chamou "Romeno Padrão" ao resultado desta receita.



Bom, assim muito por alto e de forma bastante crítica, esta é um pouco a ideia que eu tenho de uma porção muito significativa dos Romenos.

MAS ATENÇÃO: não se pode estender esta ideia a toda a população. Há aqui pessoas IMPECÁVEIS, super civilizadas, honestas, trabalhadoras, afáveis, atenciosas, educadíssimas, pessoas simpatiquíssimas, só que não reflectem o geral das pessoas com quem até agora tenho tido contacto.


Pode ser que esteja completamente errado, e que esteja a ser profundamente injusto, mas a minha percepção deste povo é a de um povo que se libertou há muito pouco tempo de um regime altamente opressor e particularmente castrador a nível emocional, e denota uma enorme ânsia de mostrar prosperidade e bem estar, algumas vezes exacerbada a níveis um tanto ou quanto absurdos, algo bem patente na quantidade de carros topo de gama que se vêm a circular por aqui por Bucareste.

Para a generalidade dos Romenos, a necessidade de ostentar um enorme carrão sobrepõe-se à necessidade de possuir uma boa casa... Há quem gaste tudo num topo de gama e depois viva num pardieiro miserável. Mas isso talvez também aconteça um pouco em Portugal, e simplesmente eu não repare por estar demasiado habituado, ao ponto de considerar uma tal banalidade que a tomo como um dado adquirido que passa "invisível" ao lado da minha percepção.

Mas por aqui tenho visto coisas inacreditáveis.
Civismo e simpatia devem ser considerados por muita gente como "bens" acessórios, não merecedores de qualquer esforço ou destaque.

Receita para confeccionar um "Romeno Padrão", Parte II: "Comentário objectivo pós-choque inicial"

Pois é!
Olhando para trás, para aquilo que escrevi em Fevereiro vejo agora o quão injusto estava a ser para este povo.

A receita original era antes para a excepção, para a ralé que confirma que na generalidade, apesar de por vezes serem um tanto ou quanto "naifs" e parolos, os romenos até são boa gente.
Agora que estou em Sibiu conheço uma realidade completamente diferente.




Um país seguro, não muito organizado, mas com vontade de crescer, um país ainda fortemente influenciado por uma classe política de moral duvidosa, onde apesar dos quase 20 anos de democracia que contam já após a queda do Ceausescu, continua a reinar a corrupção e o tráfico de influências.

Pelo menos aqui as pessoas são afáveis, calorosas e altamente religiosas! Há para aqui igrejas ortodoxas em tudo o que é sítio!
E há muita gente que cumpre todos os preceitos religiosos cá do sítio. Ficar 40 dias sem comer carne antes da Páscoa, ir à missa, ter uns santinhos no carro, sei lá!
Até nos cumprimentam dizendo "Christos a înviat", ao que temos de responder "adevarat enviat" ("Cristo foi enviado"; "Foi deveras enviado")!
Ahahahahahahaha! Só rir!
Então para um ateu como eu... Pfff, mas vá lá, se os faz feliz, a mim também não me prejudica!!!
E que o meu ordenadinho também continue a ser "înviat" todos os meses, porque esse sim, traz-me muito mais paz espiritual do que o primogénito do omnipresente!

Bom, a brincar a brincar esta miscelânea de ideias parvas já se estende um pouco mais do que o inicialmente previsto, a modos que por assim dizer, me parece que vou ficar por aqui!

Deixo só um grande abraço aos meus colegas romenos que estoicamente aguentaram os 40 dias da quaresma só a comer batatas com arroz, aos colegas romenos que não falam um boi de inglês, aos colegas romenos que mal conheço, à população romena em geral e à ciganada e remanescente cambada de indigentes em particular, ao Papa Bento XVI, à Madre Teresa de Calcutá, à minha família, à minha namorada, aos meus amigos, aos meus colegas de kickboxing, e a todos vós leitores críticos desta parvoeira literária que para bem de todos agora termina!

La revedere!

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Recordações de Bucareste

Abril, mês da caça às galinhas e da iniciação dos ciganos à vida de ladroagem!
Ou então não!
Se calhar sou só eu a blasfemar um pouco este povo que afinal de contas nem é assim tão cigano quanto o pintam lá fora, nem tão desonesto quanto se poderia julgar à primeira vista, e que, apesar de desorganizado e pobre, tendo em conta o actual estado das infraestrutura e o contexto político vigente neste país, até diria que se tem "desenrascado" de forma exemplar.



Hoje falo de recordações de Bucareste!
Recordações dos meus primeiros tempos por terras da Roménia, lá para Janeiro e Fevereiro de 2010.

Uma tremenda inércia psíquica tem-me levado a adiar sistematicamente a colocação de um "post" com algumas informações relevantes, ou talvez não, sobre a capital deste "maravilhástico" país do leste, mas chega!

Já vamos a meio de Abril, a modos que por assim dizer, está na hora de falar um pouco do que até aqui se passou!



A primeira impressão:

"Dassssss... Tirem-me deste filme!!!"

Pois é, acho que foi mais ou menos isso que pensei quando pela primeira em Janeiro vez circulei pelas ruas caóticas e ruidosas daquela efervescente colmeia pejada de romenos cada um mais esquisito do que o outro!



A primeira impressão deixou mesmo muito a desejar, o que nem é mau, pois daí para a frente as coisas só podiam melhorar!



E assim foi!
A pouco e pouco acabamos por nos habituar às pessoas, aos cheiros, aos ruídos, até mesmo à maneira de ser, e a aculturação acaba por acontecer de forma fluída e suave, quase imperceptível, e quando damos por ela, aqui estamos nós, perfeitamente enquadrados num ambiente que à partida tinha tudo para ser desastroso.



A antipatia dos funcionários dos serviços, os sem abrigo, os indigentes com empregos de ocasião, sejam eles a vender taludas da lotaria, meias, pequenos ramos de flores ou a prestar serviços essenciais, como andar com uma balança atrás para que as pessoas se possam pesar na rua entram na nossa rotina e nem mesmo os cães que despontam que nem ervas daninhas em cada esquina constituem já motivo de espanto ou de surpresa para nós.



Mas para não cansar, porque aqui por estas bandas às vezes dá-me para começar a desbobinar k7s inteiras de conversa fiada que não interessa nem ao Menino Jesus, vou é encher este post de fotografias!

Fotografias das pessoas, das ruas, da neve, fotografias que, melhor que palavras, serão capazes de ilustrar aquilo que é realmente a vida quotidiana em Bucareste.



Neve em Bucareste:

Com uma eficiência superior ao mais poderoso desodorizante existente no mercado a actuar no sovacão mais indescritívelmente malcheiroso do planeta, a neve actua como um "desodorizante visual" que limpa, desinfecta e oculta imagem medonha que eu tinha de Bucareste!

A cidade toda coberta de branco fica qualquer coisa!



Fantástico, é como pegar num sem-abrigo, dar-lhe um banho, fazer-lhe a barba, enfiar-lhe um fato, despejar-lhe meio frasco de perfume para cima e atira-lo para um jantar de gala do jet7 lusitano!



Ninguém ia notar a diferença, mas no dia a seguir o sem-abrigo voltaria a ser o sem-abrigo, apesar da máscara que vestira na véspera!
Com a neve passa-se exactamente o mesmo!
Hoje andamos radiantes com esta capa que Bucareste vestiu, mas a verdade é que Bucareste não mudou, por baixo, no seu substrato, continua a mesma cidade de sempre!










O Ateneul Român:

E porque o Inov Contacto não está só relacionado com trabalho (coff, coff...), também há que dar aquele toque semi-intelectualóide de alguém que se interessa pelas artes e pela cultura!

Nesse sentido, fiz umas visitinhas a uma casa de cultura bem interessante, o Atheneum!



O Atheneum ficava situado mesmo ao pé da nossa casa, nas proximidades de uma zona mais rica, onde haviam uma série de restaurantes e de edifícios bem simpáticos.



Um edifício monumental onde pela módica quantia de 4 € se podem ver espectáculos, recitais, concertos, sei lá...



Ainda lá fomos uma vez ver um recital de música clássica, e, apesar da aparência sumptuosa e luxuosa da sala, a verdade é que em termos de conforto, as cadeiras e a acústica deixavam um pouco a desejar.

Aparte isso, o edifício é absolutamente fantástico, com uma arquitectura imponente e extremamente rica, cheia de elementos em mármore, que lhe dão uma elegância e uma classe como não tenho visto muitas vezes em terras de Portugal.



É um edifício que definitivamente vale a pena visitar!

Bom, acho que talvez se venha a justificar fazer mais um post com recordações, porque verdade seja dita, não couberam aqui tantas recordações quanto isso...

Hasta la escrita a todos!