quinta-feira, 20 de maio de 2010

Nativos!



Urge a necessidade de apresentar as minhas desculpas.
Este povo romeno que tão generosamente me acolheu no seu seio não é afinal tão mau nem tão desmerecedor de consideração quanto eu talvez o tenha pintado até agora.



Certo é que me proporciona fotos fantásticas com situações que não lembram a ninguém, certo é que ainda tem um longo caminho pela frente até atingir os padrões civilizacionais a que estamos habituados em Portugal, mas não posso deixar de me perguntar: Qual será a opinião de um Sueco ou Alemão que radicado no nosso país se confronta com uma realidade tão diferente da que vivia anteriormente? Não nos olharão eles de forma idêntica?

Por isso, na rubrica "Nativos", resolvi não colocar apenas fotos de indigentes e miseráveis, mas também algumas imagens do dia-a-dia de pessoas normalíssimas, mas que por alguma razão me chamaram a atenção.


Uma criança cigana espreita curiosa para a minha máquina fotográfica meio escondida pelo irmão mais velho, numa aldeola aqui perto de Sibiu. A segunda foto foi un ciganito que eu apanhei distraído a olhar para a estrada, em Sighişoara.


A miséria a uma rua de distância da alegria de um casamento, em Sibiu.
O confronto entre duas realidades que coexistem a escassos metros uma da outra.
Um casamento de pessoas claramente abastadas, e um indigente sentado num banco a ler um jornal.
Pergunto-me se em Portugal a grande maioria dos sem-abrigo não serão analfabetos. Mais uma diferença entre nós e os Romenos.





Imagens de uma Roménia rural.
Um pastor que tomava conta do seu rebanho nas proximidades da nossa obra; uma carroça estacionada num bairro periférico de Sibiu; um vendedor de batatas que dormia ao sol num banco ao lado da estrada que liga Sibiu a Fagaraş; um agricultor a transportar as suas ferramentas, na estrada que vai para Paltinis.






Os velhinhos de cá não são assim tão diferentes dos nosso, trocaram foi a bisca pelo xadrez. Aparte isso também me parecem um bocado mais dinâmicos, pelo menos a avaliar pela quantidade de pessoas de idade avançada que vemos a circular pelas ruas e caminhos deste país.




Aqui está um ponto em que noto alguma diferença.
O acesso à cultura. Temos bem enraizada aquela ideia de que os romenos são ciganos incultos e sem educação, mas tal não é verdade.
Para mal deste povo, os exemplares emigrados correspondem muitas vezes a uma amostra não representativa daquilo que é a Roménia.
Há muitos espectáculos, e quando não são gratuitos geralmente têm preços bem acessíveis, e costumam ter sempre uma audiência bastante razoável.





Tesourinhos perdidos dos tempos em que vivi em Bucareste.
Primeiro os vendedores de facturas; em Bucareste, em certas estradas, deparámo-nos com uma multidão de gente a acenar com uns papéis que ao início não conseguimos perceber bem o que é que eram. Viemos a saber que eram facturas. Uma multidão de vendedores de facturas, num daqueles negócios impensáveis num país civilizado, mas que aqui assume proporções que já não lhe permitem passar despercebido.
Depois os parquímetros. Lixados porque têm pernas e nos perseguem e porque não dão para encravar com papéis como os de Lisboa, mas bastante úteis quando neva, pois com a ajuda da pá lá vão limpando ruas e carros, que por vezes ficam encalhados no meio de tanta neve.
Algumas fotos ainda de um passeio pelo parque, para se ver o estilo exuberante da juventude, as acrobacias que alguns aventureiros fazem com as suas bicicletas e um "peseiro", uma profissão só vista por estas bandas, e que consiste apenas em ficar sentado o dia todo a comer sementes com uma balança à frente para as pessoas se pesarem.


Obra!
Um "elevador" improvisado para subir taludes e dois caloteiros que descansavam escondidos atrás de um monte de terra.
Escusado será dizer que depois de me terem visto a tirar a foto se puseram logo de pé a trabalhar, mas não sem antes me terem lançado um olhar fulminante de quem fica realmente lixado por ter sido apanhado em flagrante delito.


Os típicos ciganos, com os seus trajos de cores espalhafatosas e exuberantes.
Os homens ostentam o típico chapéu preto da ciganada e bigode.
Estas fotos foram tiradas num bairro cigano da aldeia de Porumbaco de Jos, a 30km de Sibiu.


A filmarem um anúncio em Bâlea Lac.


A canalização do gás aqui está toda à superfície.
Neste caso, a conduta do gás foi adaptada para servir de banco aos velhotes daquela rua.



Bom, e como não podia deixar de ser, algumas fotos de uns nativos lusitanos durante uma visita ao Museu Astra, em Sibiu.



Conclusões:

1) A Roménia, apesar de tudo, ainda é um grande atraso de vida!

2) Apesar de ser um atraso de vida, este país tem uma coisa curiosa. É que primeiro estranha-se, depois entranha-se! Não percebo bem porquê, mas até gosto disto. Deve ser da Primavera, as coisas deixaram de ser castanhas e adquiriram outra vivacidade.

3) Os Romenos ainda estão um bocado presos a uma elite política corrupta e ineficaz, o que faz com que muita gente viva num mundo que mais faz lembrar a idade média.

4) Ainda há aqui muito para descobrir, entre explorar o país e os hábitos dos nativos. Afinal de contas a Roménia tem muito mais para oferecer do que aquilo que mostra à primeira vista.

5) Há mais uma data de conclusões que se podem tirar, mas não estou muito para aí virado, até porque não quero afastar os leitores ao colocar aqui textos muito extensos e com conteúdo pedagógico. É muito mais eficiente adoptar uma postura satírica e maldizente do que ser um pedagogo enfadonho e desinteressante! ;)

Inté!

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